domingo, 13 de maio de 2018

Relato de Dona Raimunda: Lembro Quando Tudo Começou

Dona Raimunda mostrando foto antiga do bairro da "Feirinha"

Eu sou Raimunda, conhecida como Raimunda da Galinha, moro nesse bairro [Bairro Santo Antônio] há 63 anos, cheguei aqui com um ano de idade e lembro de muitas coisas que já aconteceram aqui.

Onde hoje é a praça [Praça da Feirinha], era uma lagoa e eu já pesquei muito ali. Lembro de um pé de manga que tinha aqui. Isso aqui era tudo cheio de mato e eu comecei a capinar com o meu primo, foi ele que teve a ideia de juntar os moradores pra fazer uma feirinha, meu irmão Valter, que é professor, estava com um ano e pouco de idade, minha mãe e meu pai trabalhavam na roça.

Deixa eu dizer uma coisa: naquele tempo era difícil ter uma bacia boa, eu tinha uma de alumínio e eu usei essa bacia pra ajudar meu primo a capinar e limpar todo esse espaço. Quando minha mãe chegou do trabalho ela viu o estado da minha bacia e perguntou o que tinha acontecido, eu disse que estava cavando com meu primo e estava levando a terra na bacia pra jogar na subida da ladeira [ladeira do CEC], porque ele teve a ideia de fazer uma feira aqui, a partir daí o bairro foi crescendo.

A casa de meu pai que é onde eu trabalho hoje era de taipa, nosso colchão era feito de capim. Deus ajudou que minha mãe vendeu uma herança em Santo Antônio de Jesus e a gente começou a construir nossa casa aqui.

Essa rua antigamente [trecho da avenida São Pedro nas imediações da Praça] se chamava Rua da Palha. Eu saia com as meninas pra caçar osso pra vender, quando eu chegava num lugar que tinha morrido algum animal eu gritava: "Meninas, achei uma bogada", e a gente vendia aqueles ossos, era uma alegria enorme, nessa época eu tinha uns 16 anos e fazia cocada pra vender.

Nessa rua aqui tinha cada valeta imensa, eu já quebrei tanto o meu tamanco aqui, quando ia pra Feira. Já emendei várias vezes o mesmo tamanco, colocando prego, porque sempre quebrava. E quando eu levava pro rapaz consertar, ele dizia: "Raimunda esse tamanco não serve mais não, já tem muito buraco de prego". Eu sempre falava: coloque só mais um moço, eu preciso desse tamanco.

Lembro quando começou o CEC, quando capinaram, quando passaram a máquina, foi Antônio Ribeiro Santiago, tinha um campo que se chamava Campo do Exu, onde os meninos jogavam, eu sei da história toda, lembro quando tudo começou, quando inaugurou a escola e aí foi crescendo e crescendo o bairro cada vez mais. Depois fizeram o CSU.

Meus filhos todos estudaram no CEC, eu fazia questão de que eles sempre saíssem no desfile de 7 de Setembro do CEC e eu saia correndo atrás deles com a garrafinha de água na mão, eu acompanhei tudo quando começou, não tinha escolas públicas, só particulares, o CEC foi a primeira e a segunda foi quando veio a Nossa Senhora de Lourdes que é onde hoje é o CSU, devo tudo ao CEC, nunca paguei escola particular para os meus filhos.


Dona Raimunda
Moradora do Bairro Santo Antônio

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